segunda-feira, 16 de julho de 2012

“O Salvador da Pátria”, Uma Novela Inesquecíveis


  Considerado um dos nossos grandes dramaturgos, Lauro César Muniz é o autor da novela “Máscaras” atualmente no ar pela Rede Record. Titular de outros grandes sucessos da emissora como “Cidadão Brasileiro” (2006) e “Poder Paralelo” (2009).
  “O Salvador da Pátria” estreou na TV Globo em Janeiro de 1989, e contava  a história do bóia-fria Sassá  Mutema (Lima Duarte) que através de jogos de interesses dos poderosos da cidade, chegava à prefeito.

  Aquela frase escrita nos créditos de encerramento das tramas naquela época onde dizia : “Qualquer semelhança com fatos e pessoas da vida real, será mera coincidência” não poderia ter uma aplicação melhor do que na trama de O Salvador da Pátria .
   A Novela estreou exatamente no primeiro ano de eleições diretas para presidente, depois do duro regime militar, Lula e Collor eram os principais candidatos, e a mídia logo ligou a figura do simplório Sassa Mutema a de Lula , acusando a Globo de apologia a sua candidatura. Mesmo sem a censura oficial, a alta cúpula da Globo encomendou ao autor mudanças na sinopse, e assim a novela perdeu o seu “lado” político e focou na trama policial.
  A trama é ambientada nas cidades fictícias de Tangará e Ouro Verde, que são rotas de narcotráfico, e gira em torno de Sassá Mutema, um bóia-fria (agricultor que trabalha em diversas lavouras mas não tem sua própria) que acaba sendo cooptado por um fazendeiro, Severo Blanco (Francisco Cuoco). Para evitar um escândalo com sua amante, Marlene (Tássia Camargo), Severo convence Sassá a se casar com ela para criar uma fachada. No entanto, Marlene é assassinada e encontrada morta com Juca Pirama (Luiz Gustavo), radialista local que denunciava desmandos das oligarquias e dos traficantes. Interessados em se aproveitar do fato, tanto os fazendeiros (chefiados por Severo) quanto os sindicalistas rurais ligados a Marina Sintra (Betty Faria)  manipulam Sassá para que ele confesse um duplo homicídio que não cometeu, e transformam um crime político em um crime passional. Com a fama, Sassá Mutema acaba convencido a se candidatar a prefeito e se elege, o que desagrada à quadrilha de traficantes, que começa a ameaçá-lo. A novela acompanha a mudança de Sassá, de bóia-fria analfabeto a político poderoso, mas ainda um joguete usado ao sabor das conveniências, além do conflito dele com a nova vida, sem falar em seu amor pela idealista professora Clotilde (Maitê Proença) . Em paralelo, vemos o drama de João Matos (José Wilker), um piloto civil, irmão de Juca, que foi envolvido por ele no esquema do narcotráfico e que agora tenta provar sua inocência. Ao fim, descobre-se o cabeça do esquema: era Bárbara (Lúcia Veríssimo), amante de Severo e neta do banqueiro local.






  Lima Duarte mais uma vez brilhou na interpretação de tipos característicos e trejeitados. O Sassa Mutema, quando ainda bóia-fria era de uma  ingenuidade inigualável, e  o ator soube dosar de maneira única essas particularidades.  O Público acompanhou diante da tela a transformação de Sassá, que do analfabeto bóia-fria se torna um dos políticos  mais poderosos e influentes  da região. Outro ponto forte da trama era a  relação de amor entre ele e Clodilde , vivida pela Maitê Proença, que no início se mostrava quase fraternal, com a ilusão de que aquele homem tão simples pudesse conquistar aquela linda mulher, e depois que a chama do amor entre eles queimou, Clotilde  que era uma professora idealista, não via mas naquele político “astuto” o simples homem por quem se apaixonara. Lima Duarte confessou em entrevista anos depois, que na época de O Salvador da Pátria , realmente se apaixonou por Maitê Proença, tamanha foi a química dos dois em cena e que havia chegado a se declarar para ela.

  A novela O Salvador da Pátria foi a seguinte no horário depois do estrondoso sucesso de Vale Tudo (1988) do autor Gilberto Braga , e obviamente criou-se a expectativa do público e principalmente da emissora , que tinha receio da trama não segurar os índices de audiência, mas a novela foi sucesso logo em seus primeiros capítulos, principalmente pela trama que girava em torno  do assassinato de Juca Pirama (Luiz Gustavo) e Marlene (Tássia Camargo), que eram assassinados no capítulo 17.  Luiz Gustavo fez do seu Juca Pirama um personagem inesquecível , quem não lembra do seu bordão “Meninos eu vi”. O Personagem apesar de assassinado, passou a aparecer apenas com a voz a trama inteira, dando a entender que estaria vivo, mas no final tudo não havia passado de uma montagem de gravação, ele realmente havia sido assassinado pela organização do narcotráfico.
  Betty Faria , que deu vida a fazendeira Marina Sintra , oposição política de Severo Branco. Uma mulher séria e centrada , preocupada apenas com as filhas e os negócios da família, mas que se descobria aberta para o amor quando conheceu João Mattos (José Wilker). E Assim teve que se expor na relação com um homem casado, que não podia resistir. Tenho na minha memória bem guardado a cena em que ela descobre que sua secretária e fiel escudeira Diná (Aldine Muller) é uma das integrantes da organização criminosa da trama e a esbofeteia. Betty Faria emendou uma novela na outra,  mesmo sendo a estrela da novela Tieta (1989) adaptada do romance de Jorge Amado por Aguinaldo Silva, ele gravou O Salvador da Pátria até o final e imediatamente começou as primeiras cenas de Tieta, sua personagem entraria  na trama por volta do capítulo 20.

  Outros destaques da trama foram: Susana Vieira que mais uma vez brilhou na pele da mulher traída e submissa; Lúcia Veríssimo no auge da sua beleza como a exuberante Bárbara, que no final é revelada como a grande chefe da organização criminosa da novela.

  No último mês de exibição da trama foi veiculada uma campanha social sobre a AIDS.  Foram inseridas informações sobre o tratamento dispensado às pessoas infectadas bem como os preconceitos gerados pela doença.
  O Salvador da Pátria nasceu do caso especial exibido pela TV Globo , O Crime do Zé Bigorna ,  do autor Lauro César Muniz , que virou filme nos anos 70, estrelado por Lima Duarte,  que era exatamente o mesmo Sassa Mutema apenas com a mudança de nomes.
  Assim foi O Salvador da Pátria , uma novela que agradou e desagradou à gregos e troianos, e mesmo sem ser o intuito inicial,  se tornou um folhetim bom de se ver, e que chamou atenção mais pelo lado policial  do que o romance. O Público ficou muito mais interessado em saber se João Mattos conseguiria provar sua inocência e quem seria o grande chefe da organização ,   do que se   ele terminaria com a Marina Cintra , ou o Sassa Mutema e Clotilde ficariam juntos no final.

Por Vinícius Sylvestre

sexta-feira, 13 de julho de 2012

 O cupido é o final das novelas em preto-e-branco


Voltamos no meio dos anos 70, especificamente em 1976, para relembrar uma novela que garantiu sucesso estrondoso e agradou adultos e crianças, transformando-se numa agradável recordação que até hoje permanece no imaginário de muitos brasileiros que a assistiram.
  Eu nem sonhava em existir, mas como todos sabem sou  saudosista de uma época em que não vivi. Gosto dos anos 50 e 60, realmente tudo que é antigo é maravilhoso... gosto das roupas, cabelos, música, carros... Com ajuda de alguns arquivos e da querida internet tenho memória visual dos personagens que marcou o horário das 19 horas da TV Globo.


A trama escrita por Mário Prata (autor de Sem Lenço, Sem Documento, 1977, e Bang Bang, 2005) se passava na ficticia Albuquerque, interior de São Paulo, em 1961. Françoise Forton, a protagonista da novela, vivia Maria Tereza, normalista que sonhava em morar na capital e ser eleita Miss Brasil - o que conseguia no final da trama. A moça era apaixonada por João (o talentosíssimo Ricardo Blat), jovem idealista, ciumento e que queria ser jornalista.

Em torno do casal, muita confusão. Mederiquis (Ney Latorraca) comandava a turma de "rebeldes sem causa". A solitária Olga (Maria Della Costa), mãe de Maria Tereza, da voluntariosa Ciça (Sonia de Paula) e do tímido Tavico (João Carlos Barroso). enfrentava o preconceito da cidade por ser desquitada - mas ganhava o coração do viúvo Guima  (Leonardo Villar). As fofoqueiras Dona Adelaide (Célia Biar) e Dona Eulália (a divertida Kleber Macedo) ocupavam o tempo comentando a vida dos outros ao telefone. O famoso bordão da dupla ganhou as ruas ("Fala, danadinha, fala!").


A cidade, no entanto, tremia ainda mais com a chegada da socióloga carioca Betina (Heloísa Millet). Com hábitos avançados para o interior, a jovem ganhava a má fama em Albuquerque, mas conquistava o coração de Mederiquis, que caía de amores pela forasteira. E, para completar o fuzuê, a irmã Angélica (Elizabeth Savalla) também se encantava por Belchior (um dos atores favoritos do meu pai, Luiz Armando Queiroz), o mendigo da região. Um homem cujo a história era desconhecida, dormia na praça e, todos os dias, fazia narrações num microfone imaginário, para uma rádio inexistente. Com o apoio da religiosa, Belchior acabava resgatando seu misterioso passado: ele tinha sofrido um acidente de carro, no qual perdera toda a família. E o juízo também, passando, então, a vagar sem rumo.



(Ney Latorraca, Régis Cardoso (sentado), Tião D'Ávila e João Carlos Barroso)

 
  Outros personagens e suas histórias também fizeram sucesso. Por exemplo: o romance da solteirona Daquinha (Vic Militelo) com o português Fidélis (Tony Ferreira); a relação de Guimarães (Oswaldo Louzada) e seu neto apaixonado por futebol Zé Maria (Ricardo Garcia); Caniço (João Carlos Barroso), rapaz desajeitado que era sempre proibido de cantar na banda Personélitis Bóis, comandado por Mederiquis; Glorinha (a querida Djenane Machado), que mantinha um diário secreto engraçadíssimo; e o cantor de Albuquerque Carneirinho (Tião D'Ávila), braço direito de Mederiquis.
  A produção da novela recriou o clima do verdadeiro Miss Brasil 1961. A cena em que Maria Tereza concorria e ganhava foi gravada no Maracanãzinho, com o público de 10 mil pessoas e com a presença dos apresentadores oficiais do concurso, os saudosos Hilton Gomes e Marly Bueno.




  Para dar mais verdade à cena do Miss Brasil, nem Françoise Forton foi avisada de que sua personagem seria eleita Miss Brasil. "Obtive uma reação realista ao extremo, até lágrimas ela deixou cair", contou Régis Cardoso no livro: No Princípio Era Som.
  As gravações externas eram feitas em Itaboraí, no Rio de Janeiro.
  Estúpido Cupido foi a última novela da TV Globo produzida e exibida em preto-e-branco  -  com exceção dos dois últimos capítulos, que foram coloridos.
  Estúpido Cupido resgatou sucessos da década de 60 e pôs a garotada da época para dançar muito rock,  twist e cha-cha-cha  -  e fez com que o disco vendesse mais de 1 milhão de cópias. O tema de abertura era a música homônima da trama, sucesso de Cely Campello, que também participava da trilha com Banho de Lua. O disco resgatava os hits Broto Legal, Ela É Carioca, Biquíni de Bolinha, Amarelinho, Meu Mundo Caiu e Boogie do Bebê. Já na trilha internacional, os clássicos Don't Be Cruel, Ruby (na voz de Ray Charles), Myster Puppy Love.

Por Vinícius Sylvestre